terça-feira, 21 de junho de 2011

Mais uma sentença boa! Aliás, boa não, ótima!

Sentença inusitada de um juiz, poeta e realista.

Esta aconteceu em Minas Gerais (Carmo da Cachoeira). O juiz Ronaldo Tovani, 31 anos, substituto da comarca de Varginha, ex-promotor de justiça, concedeu liberdade provisória a um sujeito preso em flagrante por ter furtado duas galinhas e ter perguntado ao delegado:
"desde quando furto é crime neste Brasil de bandidos? "
O magistrado lavrou então sua sentença em versos:No dia cinco de outubro
Do ano ainda fluente
Em Carmo da Cachoeira
Terra de boa gente
Ocorreu um fato inédito
Que me deixou descontente.

O jovem Alceu da Costa
Conhecido por "Rolinha"
Aproveitando a madrugada
Resolveu sair da linha
Subtraindo de outrem
Duas saborosas galinhas.

Apanhando um saco plástico
Que ali mesmo encontrou
O agente muito esperto
Escondeu o que furtou
Deixando o local do crime
Da maneira como entrou.

O senhor Gabriel Osório
Homem de muito tato
Notando que havia sido
A vítima do grave ato
Procurou a autoridade
Para relatar-lhe o fato.

Ante a notícia do crime
A polícia diligente
Tomou as dores de Osório
E formou seu contingente
Um cabo e dois soldados
E quem sabe até um tenente.

Assim é que o aparato
Da Polícia Militar
Atendendo a ordem expressa
Do Delegado titular
Não pensou em outra coisa
Senão em capturar.

E depois de algum trabalho
O larápio foi encontrado
Num bar foi capturado
Não esboçou reação
Sendo conduzido então
À frente do Delegado.

Perguntado pelo furto
Que havia cometido
Respondeu Alceu da Costa
Bastante extrovertido
Desde quando furto é crime
Neste Brasil de bandidos?

Ante tão forte argumento
Calou-se o delegado
Mas por dever do seu cargo
O flagrante foi lavrado
Recolhendo à cadeia
Aquele pobre coitado.

E hoje passado um mês
De ocorrida a prisão
Chega-me às mãos o inquérito
Que me parte o coração
Solto ou deixo preso
Esse mísero ladrão?

Soltá-lo é decisão
Que a nossa lei refuta
Pois todos sabem que a lei
É prá pobre, preto e puta...
Por isso peço a Deus
Que norteie minha conduta.

É muito justa a lição
Do pai destas Alterosas.
Não deve ficar na prisão
Quem furtou duas penosas,
Se lá também não estão presos
Pessoas bem mais charmosas.

Afinal não é tão grave
Aquilo que Alceu fez
Pois nunca foi do governo
Nem seqüestrou o Martinez
E muito menos do gás
Participou alguma vez.

Desta forma é que concedo
A esse homem da simplória
Com base no CPP
Liberdade provisória
Para que volte para casa
E passe a viver na glória.

Se virar homem honesto
E sair dessa sua trilha
Permaneça em Cachoeira
Ao lado de sua família
Devendo, se ao contrário,
Mudar-se para Brasília!!!

domingo, 12 de junho de 2011

como deveriam ser os políticos brasileiros...

Olha que matéria interessante uma amiga me mandou! Fiquei meio incrédula e resolví entrar no site da câmara dos deputados federais (endereço eletrônico na lista de sites do meu blog, aí ao lado), pra dar uma espiadinha se é real o desapego financeiro deste deputado federal, ou se era só golpe de marketing, e pra ver se ele está fazendo algo mais do que só deixar de receber o estratosférico numerário extra a que teria "direito" por ser deputado federal. Pois não é que tive uma grata surpresa? Não só é verdade o que está relatado na matéria da ISTOÉ, como ele tem uma série de projetos de lei de sua autoria, com conteúdos muuuuuiiiiiiito interessantes para nós, cidadãos trabalhadores, tramitando na casa! Inclusive, projetos que pretendem abaixar o valor ou excluir estes malditos extras que os políticos recebem, com diversos títulos. Ele é economista, e está mostrando a que veio. Fiquei tão empolgada, que mandei um e-mail pra ele e me cadastrei no site da câmara, para poder receber todos os andamentos de projetos que estão na casa ou que vierem a ser apresentados. Taí a dica pra quem quiser cumprir sua parte nesta conjuntura política (além do voto, a vigilância sobre seu candidato é uma maneira eficaz de participar), e para se atualizar sobre o que estes lobos em pele de ovelha fazem conosco e nosso suado dinheirinho. Entrem no link para ver a entrevista, vale a pena, dá raiva, mas vale a pena! Saudações acadêmicas!

Estreou como o exemplo de político que eu mereço. E você, merece?
 E merece ser reeleito, sempre!

O deputado federal José Antonio Reguffe (PDT-DF), que foi proporcionalmente o mais bem votado do país com 266.465 votos, com 18,95% dos votos válidos do DF, estreou na Câmara dos Deputados fazendo barulho. De uma tacada só, protocolou vários ofícios na Diretoria-Geral da Casa.

 
Abriu mão dos salários extras que os parlamentares recebem (14° e 15° salários), reduziu sua verba de gabinete e o número de assessores a que teria direito, de 25 para apenas 9. E tudo em caráter irrevogável, nem se ele quiser poderá voltar atrás. Além disso, reduziu em mais de 80% a cota interna do gabinete, o chamado “cotão”. Dos R$ 23.030 a que teria direito por mês, reduziu para apenas R$ 4.600.
Segundo os ofícios, abriu mão também de toda verba indenizatória, de toda cota de passagens aéreas e do auxílio-moradia, tudo também em caráter irrevogável. Sozinho, vai economizar aos cofres públicos mais de R$ 2,3 milhões (isso mesmo R$ 2.300,000) nos quatro anos de mandato. Se os outros 512 deputados seguissem o seu exemplo, a economia aos cofres públicos seria superior a R$ 1,2 bilhão.
“A tese que defendo e que pratico é a de que um mandato parlamentar pode ser de qualidade custando bem menos para o contribuinte do que custa hoje. Esses gastos excessivos são um desrespeito ao contribuinte. Estou fazendo a minha parte e honrando o compromisso que assumi com meus eleitores”, afirmou Reguffe em discurso no plenário.



 
Repasse  a quem você puder, pois a dignidade deste Sr. José Antonio Reguffe é respeitável, louvável e exemplar, senão diria, atitude raríssima no nosso meio político!
Mais informações na ISTO É:

quinta-feira, 9 de junho de 2011

se non è vero, è ben trovato!

Não sei se é dele mesmo ou não, mas é ótimo! E se não for verídico, não está muito longe de ser... Saudações acadêmicas!

O BRASIL EXPLICADO EM GALINHAS
Pegaram o cara em flagrante roubando galinhas de um galinheiro e o levaram para a delegacia.

       D - Delegado
       L – Ladrão

D - Que vida mansa, heim, vagabundo? Roubando galinha para ter o que comer sem precisar trabalhar. Vai para a cadeia!

       L - Não era para mim não. Era para vender.

       D - Pior, venda de artigo roubado... Concorrência desleal com o comércio estabelecido. Sem-vergonha!

       L - Mas eu vendia mais caro.

       D - Mais caro?

       L - Espalhei o boato que as galinhas do galinheiro eram bichadas e as minhas galinhas não. E que as do galinheiro botavam ovos brancos enquanto as minhas botavam ovos marrons.

       D - Mas eram as mesmas galinhas, safado.

       L - Os ovos das minhas eu pintava.

       D - Que grande pilantra... (mas já havia um certo respeito no tom do delegado..... )

       D - Ainda bem que tu vai preso. Se o dono do galinheiro te pega...

       L - Já me pegou. Fiz um acerto com ele. Me comprometi a não espalhar mais boato sobre as galinhas dele, e ele se comprometeu a aumentar os preços dos produtos dele para ficarem iguais aos meus. Convidamos outros donos de galinheiros a entrar no nosso esquema. Formamos um oligopólio.. Ou, no caso, um ovigopólio..

       D - E o que você faz com o lucro do seu negócio?

       L - Especulo com dólar. Invisto alguma coisa no tráfico de drogas. Comprei alguns deputados. Dois ou três ministros. Consegui exclusividade no suprimento de galinhas e ovos para programas de alimentação do governo e superfaturo os preços.

       O delegado mandou pedir um cafezinho para o preso e perguntou se a cadeira estava confortável, se ele não queria uma almofada. Depois perguntou:

       D - Doutor, não me leve a mal, mas com tudo isso, o senhor não está milionário?

       L - Trilionário. Sem contar o que eu sonego de Imposto de Renda e o que tenho depositado ilegalmente no exterior...

       D - E, com tudo isso, o senhor continua roubando galinhas?

       L - Às vezes. Sabe como é.

       D - Não sei não, excelência. Me explique.

       L - É que, em todas essas minhas atividades, eu sinto falta de uma coisa. O risco, entende? Daquela sensação de perigo, de estar fazendo uma coisa proibida, da iminência do castigo. Só roubando galinhas eu me sinto realmente um ladrão, e isso é excitante. Como agora fui preso, finalmente vou para a cadeia. É uma experiência nova.

       D - O que é isso, excelência? O senhor não vai ser preso não.

       L - Mas fui pego em flagrante pulando a cerca do galinheiro!

       D - Sim. Mas primário, e com esses antecedentes. ..

 
      Luis Fernando Veríssimo.

domingo, 5 de junho de 2011

A impunidade é diretamente proporcional à falta de civilização.

Em dias de prisão de Pimenta Neves (uma prisão que não vai resolver nada, depois de onze anos em liberdade, e que prova que a maioria das apelações é só protelatória, pois se sabe que o resultado demorará décadas e costuma não mudar nada), de novas incursões da polícia em favelas que já estariam "pacificadas", de mais policiais assassinados (sabe-se lá o porquê, se vingança ou acerto de contas), de polícia federal desacreditada, e de outras tantas coisas que a gente nem se horroriza mais, esse texto traz uma comparação que nós, amortecidos pelo descrédito, deveríamos fazer a cada segundo de nossa existência brasileira. Esse velho crime, travestido de novo escândalo, e que já encontra respaldo e proteção no próprio "establishment", deveria ser repudiado como o estupro que serve de comparação, porque é isso que esse crime é: um estupro à nossa confiança, ao nosso voto, ao nosso credo, à nossa ingenuidade, ao suor nosso de todas as imensuráveis horas trabalhadas para dar dinheiro a quem deveria gerí-lo para nos garantir e aos nossos filhos saúde, educação e segurança. Saudações acadêmicas.

O caseiro do Piauí e a camareira da Guiné

Nascido no Piauí, Francenildo Costa era caseiro em Brasília. Em 2006,
depois de confirmar que Antonio Palocci frequentava regularmente a
mansão que fingia nem conhecer, teve o sigilo bancário estuprado a
mando do ministro da Fazenda.
Nascida na Guiné, Nafissatou Diallo mudou-se para Nova York em 1998 e
é camareira do Sofitel há três anos. Domingo passado, enquanto
arrumava o apartamento em que se hospedava Dominique Strauss-Kahn, foi
estuprada pelo diretor do FMI e candidato à presidência da França.
Consumado o crime em Brasília, a direção da Caixa Econômica Federal
absolveu liminarmente o culpado e acusou a vítima de ter-se
beneficiado de um estranho depósito no valor de R$ 30 mil. Francenildo
explicou que o dinheiro fora enviado pelo pai. Por duvidar da palavra
do caseiro, a Polícia Federal resolveu interrogá-lo até admitir, horas
mais tarde, que o que disse desde sempre era verdade.
Consumado o crime em Nova York, a direção do hotel chamou a polícia,
que ouviu o relato de Nafissatou. Confiantes na palavra da camareira,
os agentes da lei descobriram o paradeiro do hóspede suspeito e
conseguiram prendê-lo dois minutos antes da decolagem do avião que o
levaria para Paris ─ e para a impunidade perpétua.
Até depor na CPI dos Bingos, Francenildo, hoje com 28 anos, não sabia
quem era o homem que vira várias vezes chegando de carro à “República
de Ribeirão Preto”. Informado de que se tratava do ministro da
Fazenda, esperou sem medo a hora de confirmar na Justiça o que dissera
no Congresso. Nunca foi chamado para detalhar o que testemunhou. Na
sessão do Supremo Tribunal Federal que julgou o caso, ele se ofereceu
para falar. Os juízes se dispensaram de ouvi-lo. Decidiram que Palocci
não mentiu e engavetaram a história.
Depois da captura de Strauss, a camareira foi levada à polícia para
fazer o reconhecimento formal do agressor. Só então descobriu que o
estuprador é uma celebridade internacional. A irmã que a acompanhava
assustou-se. Nafissatou, muçulmana de 32 anos, disse que acreditava na
Justiça americana. Embora jurasse que tudo não passara de sexo
consensual, o acusado foi recolhido a uma cela.
Nesta quinta-feira, Francenildo completou cinco anos sem emprego fixo.
Palocci completou cinco dias de silêncio: perdeu a voz no domingo,
quando o país soube do milagre da multiplicação do patrimônio. Pela
terceira vez em oito anos, está de volta ao noticiário
político-policial.
Enquanto se recupera do trauma, a camareira foi confortada por um
comunicado da direção do hotel: “Estamos completamente satisfeitos com
seu trabalho e seu comportamento”, diz um trecho. Nesta sexta-feira,
depois de cinco noites num catre, Strauss pagou a fiança de 1 milhão
de dólares para responder ao processo em prisão domiciliar. Até o
julgamento, terá de usar uma tornozeleira eletrônica.
Livre de complicações judiciais, Palocci elegeu-se deputado, caiu nas
graças de Dilma Rousseff e há quatro meses, na chefia da Casa Civil,
faz e desfaz como primeiro-ministro. Atropelado pela descoberta de que
andou ganhando pilhas de dinheiro como traficante de influência, tenta
manter o emprego. Talvez consiga: desde 2003, não existe pecado do
lado de baixo do equador. O Brasil dos delinquentes cinco estrelas é
um convite à reincidência.
Enlaçado pelo braço da Justiça, Strauss renunciou à direção do FMI,
sepultou o projeto presidencial e é forte candidato a uma longa
temporada na gaiola. Descobriu tardiamente que, nos Estados Unidos,
todos são iguais perante a lei. Não há diferenças entre o hóspede do
apartamento de 3 mil dólares por dia e a imigrante africana incumbida
de arrumá-lo.
Altos Companheiros do PT, esse viveiro de gigolôs da miséria, recitam
de meia em meia hora que o Grande Satã ianque é o retrato do triunfo
dos poderosos sobre os oprimidos. Lugar de pobre que sonha com o
paraíso é o Brasil que Lula inventou. Colocados lado a lado, o caseiro
do Piauí e a camareira da Guiné gritam o contrário.
Se tentasse fazer lá o que faz aqui, Palocci teria estacionado no
primeiro item do prontuário. Se escolhesse o País do Carnaval para
fazer o que fez nos Estados Unidos, Strauss só se arriscaria a ser
convidado para comandar o Banco Central. O azar de Francenildo foi não
ter tentado a vida em Nova York. A sorte de Nassifatou foi ter
escapado de um Brasil que absolve o criminoso reincidente e castiga
quem comete o pecado da honestidade.

terça-feira, 31 de maio de 2011

isso sim é sentença! isso sim é juiz!

Recebí esse texto em uma mensagem de e-mail, e achei fantástica e até pedagógica. Tornei-me fã incondicional desse magistrado, que me fez lembrar do porquê eu ter feito a faculdade de Direito. É uma pena que ele seja destaque, quan do na verdade deveria ser a regra, o normal, o corrente. Aproveitem a senteça, vale a pena ler! Saudações acadêmicas!


Agravo de Instrumento/ Lição ESPETACULAR
Decisão do Desembargador  José  Luiz  Palma  Bisson, do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferida num Recurso de Agravo de Instrumento ajuizado contra despacho de um Magistrado da cidade de Marília (SP), que negou os benefícios da Justiça Gratuita a um menor, filho de um marceneiro que morreu depois de ser atropelado por uma motocicleta. O menor ajuizou uma ação de indenização contra o causador do acidente pedindo pensão de um salário mínimo mais danos morais decorrentes do falecimento do pai.
Por não ter condições financeiras para pagar custas do processo o menor pediu a gratuidade prevista na Lei 1060/50. O Juiz, no entanto, negou-lhe o direito dizendo não ter apresentado prova de pobreza e, também, por estar representado no processo por "advogado particular". A decisão proferida pelo Tribunal de Justiça de São Paulo a partir do voto do Desembargador Palma Bisson é daquelas que merecem ser comentadas, guardadas e relidas diariamente por todos os que militam no Judiciário.
Transcrevo a íntegra do voto:

“É o relatório.
Que sorte a sua, menino, depois do azar de perder o pai e ter sido vitimado por um filho de coração duro - ou sem ele -, com o indeferimento da gratuidade que você perseguia. Um dedo de sorte apenas, é verdade, mas de sorte rara, que a loteria do distribuidor, perversa por natureza, não costuma proporcionar. Fez caber a mim, com efeito, filho de marceneiro como você, a missão de reavaliar a sua fortuna.
Aquela para mim maior, aliás,  pelo  meu  pai  -  por  Deus  ainda  vivente e trabalhador - legada, olha-me agora. É uma plaina manual feita por ele em paubrasil, e que, aparentemente enfeitando o meu gabinete de trabalho, a rigor diuturnamente avisa quem sou, de onde vim e com que cuidado extremo, cuidado de artesão marceneiro, devo tratar as pessoas que me vêm a julgamento disfarçados de autos processuais, tantos são os que nestes vêem apenas papel repetido. É uma plaina que faz lembrar, sobretudo, meus caros dias de menino, em que trabalhei com meu pai e tantos outros marceneiros como ele, derretendo cola coqueiro - que nem existe mais - num velho fogão a gravetos que nunca faltavam na oficina de marcenaria em que cresci; fogão cheiroso da queima da madeira e do pão com manteiga, ali tostado no paralelo da faina menina.

Desde esses dias, que você menino desafortunadamente não terá, eu hauri a certeza de que os marceneiros não são ricos não, de dinheiro ao menos. São os marceneiros nesta Terra até hoje, menino saiba, como aquele José, pai do menino Deus, que até o julgador singular deveria saber quem é.
O seu pai, menino, desses marceneiros era. Foi atropelado na volta a pé do trabalho, o que, nesses dias em que qualquer um é motorizado, já é sinal de pobreza bastante. E se tornava para descansar em casa posta no Conjunto Habitacional Monte Castelo, no castelo somente em nome habitava, sinal de pobreza exuberante.
Claro como a luz, igualmente, é o fato de que você, menino, no pedir pensão de apenas um salário mínimo, pede não mais que para comer. Logo, para quem quer e consegue ver nas aplainadas entrelinhas da sua vida, o que você nela tem de sobra, menino, é a fome não saciada dos pobres.
Por conseguinte um deles é, e não deixa de sê-lo, saiba mais uma vez, nem por estar contando com defensor particular. O ser filho de marceneiro me ensinou inclusive a não ver nesse detalhe um sinal de riqueza do cliente; antes e ao revés a nele divisar um gesto de pureza do causídico. Tantas, deveras, foram as causas pobres que patrocinei quando advogava, em troca quase sempre de nada, ou, em certa feita, como me lembro com a boca cheia d'água, de um prato de alvas balas de coco, verba honorária em riqueza jamais superada pelo lúdico e inesquecível prazer que me proporcionou.
Ademais, onde está escrito que pobre que se preza deve procurar somente os advogados dos pobres para defendê-lo? Quiçá no livro grosso dos preconceitos...
Enfim, menino, tudo isso é para dizer que você merece sim a gratuidade, em razão da pobreza que, no seu caso, grita a plenos pulmões para quem quer e consegue ouvir.
Fica este seu agravo de instrumento então provido; mantida fica, agora com ares de definitiva, a antecipação da tutela recursal.
É como marceneiro que voto.

JOSÉ LUIZ PALMA BISSON -- Relator Sorteado”

sexta-feira, 22 de abril de 2011

LÔCURA, LÔCURA, LÔCURA!!!

Antes de mais nada, devemos um minuto de silêncio em homenagem aos brasileirinhos assassinados em Realengo, numa cena absurda, certamente tirada de algum filme americano (sempre eles...). (...). Ando meio perturbada, um pouco pela saudade de minha irmã, um pouco porque o trabalho tá voltando a ficar num ritmo maluco (e eu não quero mais esse ritmo), um pouco porque parece que eu estou vivendo um pesadelo com as notícias que ando lendo. Estou chocada, horrorizada, pasmada! A tragédia da escola de Realengo é tão inverossímel, que a simples busca de um motivo se torna uma maratona cheia de obstáculos, com mil opiniões, conclusões, sugestões e análises, tudo na tentativa de tentar entender o quê e o porquê, talvez até pra descobrir se erramos em algo que talvez tivesse evitado o desastre. Mas isso não é tudo. Além dessa aberração, outras aberrações surgem aos borbotões dos noticiários, trazendo fatos que me envergonham de ser brasileira, de ser humana. Acompanhei estarrecida os desdobramentos das falácias do sr. deputado capitão Jair Bolsonaro, e a medievalidade de uma das sentenças do sr. dr. juiz de direito Rumbelsberger Rodrigues! PELAMÔRDEDEUS!!! Eu consigo perdoar e até entender um psicótico esquizo como o imbecil de Realengo, que vive uma realidade paralela, enxerga e ouve o que não existe e imagina-se perseguido, mas um cara formada, ilustrado e investido num cargo e numa função pública??!!!!!! De novo: PELAMÔRDEDEUS!!!!! Lôcura, lôcura, lôcura! Pra quem não leu ou não soube, o ilustríssimo Bolsonaro, em resumo, declarou, em alto e bom som, pra quem quisesse ouvir, que ele será a maior pedra no sapato de quem tentar regular, pelos trãmites do legislativo, os direitos dos homossexuais, e que vai fazer de tudo pra "enterrar" (isso mesmo, ele usou esse termo mesmo, certamente com segundas intenções, e deve estar fazendo chacota disso, em seu gabinete, com seus assessores, sobre o quê e onde "enterrar", como bom macho adulto branco dominante que é) as iniciativas neste sentido. E o ilustríssimo Rodrigues (que eu não consigo repetir o outro nome), em uma sentença sua, chamou a lei Maria da Penha de "conjunto de regras diabólicas", que "se vingar colocará a família em perigo", pois a "desgraça humana começou no paraíso, por causa da mulher", e que "as armadilhas desssa lei absurda tornam o homem tolo, mole", e que "o mundo é masculino e assim deve permanecer", e que no caso de um impasse entre o casal, "a posição do homem deve prevalecer até a decisão da Justiça, já que o inverso não será do agrado da esposa". Certamente, não será do agrado da esposa dele. Ou de algum muçulmano fanático do taleban. Meu, tô desacreditando, véi!!! Nunca, jamais, eu ví algo tão imbecil, machista, nojento, sexista, preconceituoso e macabro do que estas duas declarações! Eu tô morrendo de medo disso, é sério! Já imaginou se isso vira moda? A Ku Klux Klan e o apedrejamento de supostas adúlteras vão virar lei! Caraca! Tô inconformada, chega a me dar um embrulho no estômago.
Eu sempre fui contra os poíticamente chatos corretos, os ecochatos, os chatos protetores das minorias e dos animais. Veja bem, dos chatos. E sabe porquê? Porque o chato é sempre um chato, e acaba esvaziando a discussão do que realmente interessa. É que nem reunião de condomínio, onde um cara reclama que o outro construiu um armário no vão da parede da vaga de garagem demarcada dele, e que não pode, não pode, não pode! Não pode porquê? Por que tá usando um espaço que não está combinado? Ora, mede quantos metros quadrados tem, e cobra condomínio e IPTU dele, uai? Qual é o problema do armárinho, se o probema real é que não tem vaga na garagem pra todo mundo, percebe? Então, vamos discutir a gaiola do animal de laboratório, que solto na natureza vai morrer, porque não é selvagem, ou vamos discutir os motivos do uso de animais em laboratórios? Vamos discutir se o percentual de cotas de afrodescendentes é esse ou aquele, ou vamos discutir se o melhor não seria pegar os melhores alunos de toda uma vida para dar a eles a vaga na facul pública? Vamos dar bolas pro presidiário costurar, enquanto cumpre pena numa instituição que deveria servir só pra ele aguardar julgamento, ou vamos resolver o fato de que ele deveria estar numa instituição adequada, ou talvez até solto? Percebe? Entende onde está o buraco? Não gosto de jeitinhos, gosto de soluções. Por isso, os chatos me irritam. Mas isso não quer dizer que não me preocupo, não me incomodo e não milito pelos direitos iguais. Ora, ora, militei oficialment pelos direitos humanos por dezessete anos (isso mesmo), e continuo fazendo minha parte extra-oficialmente. E é por isso que estou chocada. Há trinta anos atrás, essas afirmações passariam despercebidas para a maioria, e até nem incomodariam a quase totalidade das pessoas, pois eram posturas relativamente aceitas socialmente, num Brasil em que direito era coisa de militar e de ditadores, e deveres eram a nossa vida, de pobres cidadãos mortais. Mas agora?! Depois de todo esse avanço das relações sociais, do Judiciário brasileiro, com todos seus defeitos, estar conseguindo impor o Estado de Direito, do brasileiro estar reconhecendo que todos têm direito ao seu lugar ao sol, não importa se alto, baixo, gordo ou magro, branco ou vermelho (vamos evitar problemas com os politicamente chatos), ouvindo samba ou ouvindo funk, comendo carne ou vivendo da luz, gostando de rosa ou gostando de azul! A verdade é que dentro de casa, conversando na mesa de refeições, essa postura é inaceitável, mas investida de cargo público ela é INADMISSÍVEL, e deve ser punida, com os mesmo rigores de lei que exigimos aos assassinos. Sim, porque essa postura, vinda de uma "otoridade", cria isso mesmo: assassinos. Se não assassinos dos corpos, assassinos das almas. Quem é que disse a esses senhores que o mundo é pequeno demais para cabermos todos nele? Quem é que disse a esses senhores que uma pessoa tem direito sobre a vida e o corpo da outra? Quem é que disse a esses senhores que alguém pode mandar em outro alguém, determinando como ele deve viver e o que fazer de sí e de sua vida? Quem? Onde está escrito que, fora os gays, os simpatizantes, as mulheres, as crianças, os campistas, os animais, a natureza, os turistas, os torcedores de futebol, os fãs do funk da motinha, as apresentadoras de programa infantil e os comedores de siri, só os outros é que são filhos de Deus? Quem foi que disse que é pecado amar alguém e construir família com esse alguém, sendo ele vermelho (!!!) ou branco, alto ou baixo, gordo ou magro, macumbeiro ou evangélico, corintiano pu palmeirense, do mesmo sexo ou não? E de onde saíu, ou melhor, voltou, essa idéia maluca (deve ter sido do quinto dos infernos) de que é do agrado da mulher um homem agressivo, violento, autoritário, a quem ela deve alegremente se submeter? Certamente de pessoas que não têm a capacidade amar e o que é pior, de respeitar. Uma vez, um amigo ingles me disse que a mudança da vida dos gays ingleses, ao longo da história, tinha sofrido mudanças drásticas. Na idade média, eles eram queimados em fogueira; depois, no começo do século XX, passaram a ser presos em prisão perpétua; em meados do século XX, passaram a ser multados; hoje em dia, ser gay é regular e legal, mas meu amigo disse esperar honestamente que não se torne obrigatório.(...) Ok, Ok, parece uma piada homofóbica, mas não é. É a constatação de que a orientação sexual é um direito, como qualquer outro. E que, na contrapartida, pretender que todo mundo seja heterossexual é que é um absurdo, tal como pretender que todo mundo seja gay. E quanto às mulheres, num país com uma presidenta da república e com tantas mulheres presidentas de empresas, ministras de tribunal, senadoras e trabalhadoras sustentando suas casas sozinhas, a espelho dos grandes países civilizados do norte da Europa, o que esse juiz acha, que elas chegam em casa e perguntam para os maridos se elas trabalharam direitinho naquele dia, pra que eles nãos as deixem de castigo? Quem sabe (e eles devem ter medo disso), pelo arrojo de comportamento e sofisticação de entendimento dessas mulheres, talvez elas dividam suas dúvidas e peçam conselhos para suAs companheirAs. E definitvamente, amar, dividir e se aconselhar com seus parceiros (ou parceiras) parecem coisas que esses dois... como chamá-los?...homens?... enfim, essas duas pessoas não devem saber o que é, como não sabem o que é democracia, onde a gente é obrigado a conviver com as baboseiras e as asneiras de gente como esses dois.
Sobre Realengo e seu problema real, por trás do sensacionalismo, eu falo depois.
Um arco-íris muito rosa de saudações acadêmicas!

domingo, 13 de fevereiro de 2011

dignidade X ignorância

Hoje fazem exatos 13 meses que perdí minha irmã caçula para um cancer, uma leucemia. Dia 13 de janeiro de 2010... Doença desgraçada, só pode ser cármica, porque maltrata o doente e todos os que o querem bem. Foi o desfecho de uma batalha de dois anos, com muita dor, sofrimento, medos, angústias, esperanças. Esperança e Fé. Engraçado como as duas se manifestam de modos estranhos em situações de extremos... Enfim, a doença venceu e restou a dolorida saudade. Quem é irmão mais velho sabe o que é perder o irmão caçulinha. Não interessa sua idade, o caçulinha é sempre o bebê, não é aquele com quem voce disputa a atenção dos pais, a partilha dos brinquedos e do espaço, o lugar ao sol. O caçulinha é aquele que precisa de voce, irmão mais velho, e que voce cuida e protege. E quando o caçulinha é um grande amigo seu, então o vazio é existencial. Ela morreu dentro do hospital, depois de nove dias de internação e uma semana de quimioterapia. Saíu lúcida do quarto para a UTI, pra meia hora depois o médico vir dizer que ela "não aguentou"... Não aguentou o quê? O cancer, a quimio, o hospital, os procedimentos de entubamento, o medo, a dor, a espectativa de viver cada vez pior, a saudade do filho e da sua vida antes da doença, afinal, o que foi que ela não aguentou?? Até hoje o médico dela, que não estava lá na hora fatídica, não nos chamou para explicar o que aconteceu, se algo deu errado ou se seria assim mesmo. Estou bastante aborrecida com isso e chego a ter raiva da classe médica. Ora, se um processo é perdido, o cliente do advogado quer saber o porquê, e ele tem todo o direito a isso. Ao longo do processo judicial, todos os andamentos têm de ser explicados e comprovados, o cliente quer saber. E é assim que está certo. O que acontece com os médicos? Não se sentem obrigados a isso, sua obrigação termina com o fim da vida? São tão especiais, divinos, que não podemos nem perguntar o que está acontecendo? Muitas coisas me pareceram erradas no tratamento da minha irmã, desde a quantidade de quimioterapias aplicadas, o transplante de medula que nem foi cogitado, até o fato de ela ter sido mantida em um quarto com outras pessoas e suas acompanhantes, com doenças diversas, inclusive feridas abertas e infeccionadas, que a colocavam em risco, por conta da baixa de imunidade que a quimio traz. Justamente por ser leiga, eu creio que deveríamos ter sido esclarecidos pelo profissional competente. E isso não foi feito, até agora. Pior que isso: por não ter havido esclarecimento, não foi permitido à minha irmã escolher sua forma e seu tempo de morrer. Ela chegou ao hospital bem, forte, corada, feliz e esperançosa. Terminou a quimioterapia com a resistência muito acima da expectativa. E seu atestado de óbito diz que ela teve uma pneumonia e sepse, que é infecção generalizada. Como aconteceu isso? Amigos médicos dizem que foi melhor assim, que se ela sobrevivesse a essa recaída da doença ela viveria muito mal, com muito baixa qualidade de vida. Disseram que ela ter sobrevivido ao primeiro ataque da doença foi um milagre. Disseram que até os próprios médicos levam infecção ao paciente, que é difícil evitar a infecção dentro do hospital. Mas, e aí? O que significa isso tudo, quando tudo já aconteceu? Fico pensando que, se talvez seu médico lhe tivesse dito que a doença é 80%  fatal (o que é real, hoje eu sei) e que a recaída não dá escapatória, será que ela teria querido ir para o hospital, enfrentar nova quimio? Ou teria preferido ficar com seu filho, em sua casa, com seus cachorros, suas coisinhas, nossa mãe trazendo suquinhos e suas irmãs trazendo os sobrinhos, para talvez morrer sem dor, apagando-se silenciosa e serenamente como uma vela linda que chega ao fim? Tenho raiva, porque acho que o médico sabia que ela "não aguentaria". Tenho raiva porque ele sempre foi evasivo e nunca explicou realmente as expectativas, as possibilidades. Tenho raiva porque, se a quimioterapia tira temporariamente a imunidade do paciente, que pode até morrer de um simples resfriado, porque é que ela não foi isolada em um quarto, sozinha, com todos os procedimentos necessários para assepsia de objetos e visitantes? Sabe a resposta que ouví quando questionei o isolamento? "Mas o convênio dela é de enfermaria! As pessoas compram enfermaria, achando que não vão precisar, e olha aí. Ela deveria ter comprado o apartamento..." Não sei, pode ser ignorância minha, mas se o tratamento pede isolamento, o que tem a haver convênio de enfermaria ou de apartamento? Não está claro que o isolamento é uma questão de vida ou de morte?... Então!...
Uma das últimas coisas que ela me disse é que ela não tinha medo da morte, mas tinha medo da dor. E o tratamento é absolutamente dolorido, a doença é terrivelmente dolorida. E muitas vezes eu penso que ela se foi porque não aguentou a idéia de sofrer de novo e mais. Especialmente porque ela parecia bem, recuperada. E eu me pergunto: até quando médicos vão ingerir-se em nossas decisões sobre nossa própria morte? Um advogado não faz um processo pra voce, se voce não quiser, não lhe der autorização, procuração e pagamento para isso. Quando se trata de saúde e de vida e morte, a lei protege de forma integral a dignidade e o respeito ao doente. Não estamos falando aqui de eutanásia. Estamos falando de dignidade e respeito à vida e à morte. De minimizar sofrimentos, especialmente os emocionais, os morais. De permitir à pessoa decidir sobre sí, e aproveitar o tempo que eventualmente lhe resta como bem lhe aprouver, talvez até mesmo despedindo-se de quem ama com tranquilidade, com possibilidade de dizer e ouvir as coisas que realmente são importantes, de perdoar e ser perdoado, de aconselhar seus filhos, de beijar seus pais, de ver seus pores de sol e cheirar quantos bolos no forno e tomar quantas xícaras de café puder. A Constituição Federal, o Estatuto Médico e seu Código de Ética e as Leis de Direito dos Pacientes obrigam, isso mesmo, obrigam ao absoluto esclarecimento ao paciente e seus familiares sobre a doença, os exames, o tratamento e suas consequências. Obrigam ainda a acatar a decisão do paciente, ou da família autorizada por ele, a não receber o tratamento ou não fazer os exames propostos. Obrigam mesmo a que sejam respeitadas e aceitas as posturas religiosas e morais do paciente, quando estas confrontarem o tratamento proposto. Isso tudo em nome da dignidade. Afinal, a vida a ser prolongada deve ter qualidade, e não apenas ser esticada. Por isso, o Código de Ética médico agora privilegia a qualidade de vida a ser preservada, diferente de como era anteriormente, quando o que tinha de ser preservado a todo custo era a vida, não interessava o que isso significaria, ou quantas dores e sofrimentos traria. Fico pensando nos beijos que não lhe dei, nas vezes em que poderia ter-lhe dito o quanto a amo, e nas tantas gargalhadas que teríamos dado, rindo da própria situação drástica e burlesca da iminência da morte. Penso nas coisas que ela não chegou a dizer ao seu único e amado filho, à minha mãe, à minha outra irmã, aos sobrinhos, ao homem que amava, porque ela achou que seria fácil e rápido, e que retornaria logo pra casa, pra nós, com mais tempo para resolver isso tudo. Sei que se ela soubesse que havia a possibilidade real de não sair viva da internação, talvez ela tivesse querido ficar em casa, sem dores, e com alguns dias a mais entre nós. Isso lhe foi tirado, e foi tirado de nós, por alguém que não se sentiu obrigado a nos colocar ao par da realidade. Essa morte serena, preparada, foi proibida por alguém que acha estar acima da capacidade alheia de decidir sobre seu destino. Não quero mal a esse médico, quero apenas que ele nos explique o que houve, que nos diga porque ela morreu de pneumonia e de sepse, que esclareça o motivo de ela ter permanecido naquele quarto cheio de gente e insalubre para ela, de ele não ter feito mais quimioterapias, de não ter feito o transplante de medula, e se a morte dela era iminente e em que medida, e o que seria dela após aquela internação, se sobrevivesse. Quero que ele me explique se ela precisava mesmo ter um convênio de apartamento, para poder estar viva agora. O filho adolescente dela, tão desejado e adorado por ela, merece saber. Minha mãe, que infartou e quase morreu, merece saber. Eu e minha outra irmã, que perdemos muito da nossa alegria, merecemos saber. Quem sabe ele se questione e não se permita mais estar acima de tudo e de todos. E aprenda que deve instruir, para respeitar a dignidade alheia e, quem sabe, aliviar-se por poder repartir sua responsabilidade de ser Deus.
Com o coração ainda sangrando, mas já capaz de tocar nesse assunto, despeço-me com saudosas e doloridas Saudações Acadêmicas. Te amo pra sempre, irmã!

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Fofoca!

A internet é igualzinho à fofoca: ninguém confere a origem, quase todo mundo acredita e todo mundo passa pra frente. Recentemente recebí uma mensagem que dizia que aquelas correntes para salvar criancinhas desaparecidas ou gravemente doentes são mentira, assim como aquelas alarmistas, do tipo coca-cola derrete um osso em uma semana (é mentira, voce já tentou? Eu sim...), ou a casca da graviola cura o cancer (nenhum médico que conheço sabe dessa pesquisa). Quanto às criancinhas, eu repasso mesmo, prefiro não pecar por omissão, não tem problema se meu endereço eletrônico for parar em alguma lista de vendedor. Mas as outras eu deleto. Afinal. não é possível que só a internet consiga estar livre de censuras e interesses econômicos escusos e só ela veicule a verdade. Enfim, não repasso. E, já há algum tempo, venho recebendo uma mensagem absurda, sobre o quanto somos otários por financiarmos o auxílio-reclusão desses presos malvados e aproveitadores do dinheiro público. Com certeza voce já recebeu esse e-mail e sabe do que estou falando. Vivo respondendo explicando que não é bem como a mensagem diz, mas não adianta. Assim, vou explicar agora neste blog, de forma permanente. Gente, por favor, de uma vez por todas, auxílio-reclusão não é um benefício do INSS igual ao previsto no LOAS, e não beneficia o cara só porque ele está preso! ACORDA, PESSOAL, PRESO NÃO VOTA!! E geralmente a família também não, pois nem têm título de eleitor! Então, qual o interesse dos políticos, dos governos, em dar dinheiro pra essa turma??!! Percebe?! Se o cidadão normal, que trabalha e paga sua mensalidade pra previdência, quando precisa é uma maratona, um labirinto pra conseguir seu benefício, seu auxílio-qualquer-coisa, sua pensão, sua aposentadoria, numa demonstração clara de que o governo não é afim de pagar nada, apesar da contribuição dada, por-que-é-que iria pagar pra um preso que nunca contribuíu e que, repito, não vota? Conclusão: o governo NÃO PAGA NADA. Não contribuíu, não recebe. Simples assim. Vou explicar melhor. O auxílio-reclusão é um benefício que existe, sim, mas que só é concedido à pessoa que se encontra presa, mas que, antes de ser presa, contribuía com o INSS, seja através de seu emprego registrado em carteira (pensa que todo ladrão é vagabundo?), seja porque contribuía como autônomo (não, não existe essa classe de profissionais pro INSS...). E a concessão do benefício não é automática, ela depende de um requerimento, que será analisado e passará por aprovação ou não, e seu requisito primordial pra aprovação é o tempo de contribuição que o preso teve antes da prisão. Ah, é claro, ele tem que estar em regime fechado ou semi-aberto, ou seja, com restrição de liberdade. Se ele for para um regime prisional aberto ou de liberdade condicional, ou mesmo fugir da prisão, o benefício é cortado. Como o INSS sabe se o cara continua preso? Com a família comparecendo a cada tres meses com uma declaração da cadeia onde o preso se encontra, confirmando que ele continua lá. Esclareça-se que esse benefício não vai para o preso, mas para seus dependentes, declarados junto ao INSS. Se não tiver ninguém declarado, ninguém recebe, muito menos o preso, porque o benefício não é para ele, é para os dependentes. E se for um filho menor, ou sua companheira convivente (antigamente chamava-se amásia, ou concubina, ou amante...), terá que provar sua condição de dependente junto ao INSS. E o valor não muda porque tem mais filhos ou mais mulheres; se tiver, vão ter que dividir aquela miséria. Outro absurdo dessa mensagem que circula livremente pela internet é o valor do auxílio: mais de R$ 800,00!! Gente, se tem velhinho que recebe um salário mínimo, porque preso receberia quase dois? Afinal, eles já usufruem de estadia, alimentação, vestuário e até ensino! Pode até receber R$ 800,00, mas só se esse for o valor apurado da média de suas contribuições. Imaginem quanto de auxílio-reclusão o Pimenta Neves (aquele, velhinho, que matou a namorada gostosona e jovem a tiros num haras, e não foi preso até agora) receberia, se fosse preso!... Acho que é por isso que não prendem ele, o prejuízo seria grande... Ué, achei a resposta pra ter tanto corrupto solto na rua!! Enfim, o auxílio-reclusão não é tudo isso que dizem, e é bem complicado de receber e de continuar recebendo. Agora me digam: alguém já viu ou ouviu tv, rádio, jornal, ong, INSS ou qualquer outro órgão ou instituição informando ou ensinando as pessoas a procurarem seus direitos, pra receber o tal auxílio-reclusão? Já? Não! Sabe quem é que está arrastando multidões de mulheres de presos aos balcões do INSS, pra pedir esse auxílio? Essa benedeta mensagem que circula pelos e-mails, apregoando um montão de dinheiro pra quem tá preso! Porque mulher de preso também lê e-mail e navega na internet! Assim, se voce é uma dessas pessoas que fica indignada com dinheiro público dado a presidiário, e acha que nenhum deles merece receber o referido auxílio, mesmo tendo o direito, então se liga e pára de mandar essa mensagem ridícula, que nem é verdadeira e só atiça a vontade de quem até nem tem direito ao benefício. Pára de fazer propaganda! Deixa que os advogados façam isso.
Saudações acadêmicas!

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Filme Americano.

Tanta coisa aconteceu neste menos de um mês: as tragédias naturais no Rio de Janeiro (principalmente), o ministério da dona Dilma, a volta da polêmica discussão da maioridade penal, o fim da novela com a Clara se dando bem... tantas coisas pra comentar. Tenho que falar do Rio, porque aquilo me abalou de um jeito, e me faz orar por aquelas pessoas até hoje, e me deixa tão inconformada que...que...que sei lá! A raiva é tanta que nem dá pra explicar! Meu Deus, ninguém viu que aquilo podia acontecer? Mesmo depois da tragédia de Angra, que pareceu ser um aviso? Será que esses políticos não estão entendendo que o clima JÁ MUDOU? HELLO-O!!! Nunca, jamais na minha vida, eu gostei de frequentar cidades construídas em vales. Só aquela imagem das montanhas em volta, e voce confinado num berço de rochas, isso já me sufoca, e olha que nem tenho claustrofobia! Como é que um desgraçado, com a obrigação profissional, a função pública de zelar pelo bem-estar das pessoas, não se questiona se um evento dessa magnitude pode acontecer? Ora, é tão simples, é só somar muita chuva + muita terra molhada + encostas íngremes de rocha + cidade na direção das corredeiras!! Meu pai do céu, que horror! E por falar em pai, o meu, que era um anarquista até o último naco de pele, sempre me ensinou a jamais confiar em politicos. Se voce dissesse a ele "pode confiar, o governo disse que está tudo bem", ele respondia "e quem disse isso pro governo?". Viu como ele tava certo? Acomodação, falta de responsabilidade, falta de respeito, falta de ética, falta de profissionalismo. Previsão metereológica que diz "possibilidade de chuvas moderadas a intensas", a defesa civil que nem olha pro céu pra ver as nuvens, ou pra terra pra ver sua saturação de água, e os próprios cidadãos que acreditam em tudo, principalmente quando dizem que está tudo bem. Que tragédia! Nenhum filme americano descreveu uma tragédia como essa, nenhum efeito especial traduziria aquele horror! Me embrulha o estômago pensar naqueles bebes e crianças sendo tragadas por uma onda de lama de seis metros, sendo trucidadas pelas pedras e troncos de dentro da onda. Cada cidadão atingido deveria exigir judicialmente a indenização moral e material por suas perdas, lutar até o fim, responder a todos os recursos que o Estado obriga seus procuradores a fazerem, esperar décadas sem fim pelo resultado definitivo, e mais décadas sem fim por precatórios e outras invencionices do governo pra não pagar, mas não desistir jamais. Ainda que a indenização fique para algum herdeiro (se ainda os tiver), ainda que, quando o dinheiro chegue, sua vida já tenha sido reconstruída, a duras penas e amargas lágrimas, mas exigir. O dinheiro não vai trazer seus queridos de volta, não, não vai, mas vai ensinar o Estado a ser responsável e eficiente, previdente. O Estado, como um todo, nos presta serviços, ele não manda em nós! Ele regula nossas relações, para vivermos bem, justamente porque seu serviço é este: cuidar para que vivamos bem. E essa é a exigência que devemos fazer. Se compramos algo que tem defeito, nós não devolvemos? Se a mão-de-obra contratada é ruim, não pedimos o dinheiro de volta? Se algo nosso é estragado por negligência, não cobramos o estrago de quem estragou? Então, assim deve ser! Se tem uma coisa boa em filme americano, aliás a única coisa, além dos efeitos especiais, é que o herói nunca confia no governo, ele sempre salva todo mundo porque desconfiou daquilo que convenceu a todos. Vamos confiar em nós e exigir eficiência de quem tem obrigação. Quem sabe não precisaremos mais ouvir que a culpa é de São Pedro, das chuvas, do El Niño, da El Niña, de Pedro Álvares Cabral, ou sei lá mais quem!
Mudando de assunto: e o problema da maioridade penal, hein? Que caroço! Tem gente falando de baixar de 18 pra 16, pra 14, e até pra 12 anos! Já imaginou? Tem gente que argumenta que nos EUA as crianças são processadas como se adultos fossem, que tem que prender e jogar na cadeia todo mundo, que tem que fuzilar, que tem que... Por que os brasileiros gostam de citar os EUA como exemplo? Lá vive tendo homicídio, chacina em escola e festa, marido que mata a mulher, os filhos e a sogra (ok, vai ter gente dizendo que a sogra tudo bem...), torturas, filhos de estupros incestuosos, presidente que é "impeachicado" por causa de uma ch....inha embaixo da mesa de trabalho, celebridade caindo de bêbada e drogada (e sem calcinha!) dizendo que a culpa é da mãe, polícia espancando suspeito em rede nacional. E a gente acha "mó legal" aquelas perseguições de carros, tiroteio, tudo sendo destruído. Sei lá, não entendo essa referência. Mas tudo bem, cada um com seu cada qual. Alguém que lê esse blog e acha que tem que espancar e prender até a eternidade já foi preso? Não precisa se ofender, pode ser por uma besteira, como não pagar pensão alimentícia ou brigar com a sogra (sempre ela!), só por uma noite. Ou esse alguém já leu a lei de execuções penais, sabe o que ela significa? Pois é! Sabe o que significa falar que vai pegar um garoto de 14 anos e jogar na prisão? Então... Eu até nem seria contra baixar a idade penal para 16 anos. Eu acho muito arriscado voce processar criminalmente um cara de 17 anos por estupro seguido de homicídio, ele receber uma pena de internação na Fundação Casa por tempo indeterminado e ele não cumprir porque já passou dos 18 anos quando da sentença, ou ficar pouco tempo, porque poderá ficar retido só até os 21. É, eu também acho que ele deveria ficar mais tempo do que estes 4 anos sob custódia do Estado. Mas se a gente jogar esse cara de 17 anos numa prisão com um monte de marmanjo do crime organizado, o que vai ser? E se o cara tiver 14 anos e estivesse fazendo um traficozinho no bairro, pros colegas de escola? Vai ficar no meio dos marmanjos do crime organizado? E se tivesse 12 e a tara dele fosse furtar carro pra sair dando rolê, porque o pai não deixa pegar o Ford Fusion, porque "quem tem fez por merecer"? No meio dos marmanjos??? Quem vai garantir a integridade física e mental desse carinha? Os marmanjos do crime organizado? Viu como é complicado? Ah, mas é só construir uma instituição para aquela faixa etária! Ok! Voce sabia que as cadeias públicas servem só pro cara aguardar julgamento, e tem montanhas de pessoas (credo, lembrei do Rio) cumprindo pena, porque o sistema não se lembra de tirar elas de lá, ou não tem vagas em outro lugar mais adequado? Voce sabia que, mesmo quando o Jornal da Globo não noticia, tem gente sendo morta na cadeia, porque não tem espaço pra todos dormirem? E pasmem: quem morre não é o assassino cruel, o bandidão, é o carinha bunda-mole que vendeu um baseadinho de maconha, ou que furtou um carro, ou que é tão franzino que é fácil de dominar fisicamente. Eu acho que, como não dá pra consertar tudo de uma vez e rápido, o melhor seria não mudar a idade penal, mas criar um sistema de reavaliação de periculosidade e amadurecimento (sério, de verdade, não de mentirinha, pra cumprir horário de trabalho) quando o garoto chega aos 18 na Fundação Casa, e manter a internação por tempo indeterminado, se o caso, até além dos 21 anos, em estabelecimento adequado à idade, com possibilidade até de ir para uma penitenciária comum depois dos 21. Já se faz isso em casos em que se detectam distúrbios mentais nos menores, e o internado vai para casas de custódia e tratamento quando atinge a maioridade. O outro lado seria reavaliar o sistema como um todo, desde o modo truculento dos policiais (inclusive com as vítimas), o descaso de alguns juízes, promotores e advogados, a negligência de peritos, a ineficiência dos estabelecimentos penais e o total descumprimento, sempre pelo Estado, das determinações legais da Lei de Execuções Penais, por tratar assuntos tão delicados como produtos de atacado. Mas isso já é uma outra história, bem mais longa e complicada!
Por fim, a Clara, ah, a Clara... E não é que ela se deu bem? Não é que o Totó ressurgiu das cinzas, e o Saulo, além de ladrão, era pedófilo e assassino, o Diogo era policial (eficiente, igual aos filmes americanos), e a coisa se desenrolou de um jeito que eu tô confusa e inconformada até agora! Por que o Fred se ferrou e a Clara se deu bem? Só por que ela ficou com traumas dos abusos sofridos, então ela pode matar? E afinal, ela dava pro velho Eugênio também, e por isso concordou em ajudar a matá-lo? Gente, horrível, cheio de impossibilidades e balelas jurídicas! Mas enfim, novela é novela. Mas tem uma coisa que é minha obrigação colocar na roda de discussão: afinal, quando o Fred chamava a Clara de branquela, ele estava sendo preconceituoso quanto à cor da pele dela? Poderia ser chamado de racista? E entraria na tipificação do crime de preconceito quanto à cor e raça? Hein??!!
Saudações acadêmicas!

sábado, 1 de janeiro de 2011

FELIZ ANO VELHO!

Sou otimista. Sempre. Até quando o copo está meio vazio. Mas sempre otimista. E existe momento melhor para o otimismo do que a virada de um novo ano? Com todas as crendices, simpatias, tradições? A queima de fogos chinesa, pra espantar maus espíritos, o banho de mar pra limpeza da alma da umbanda e do candomblé, as lentilhas e uvas europeias pra trazer dinheiro, o champanhe, as flores, as cores, tudo? É muito bom, injeta ânimo novo nesse cotidiano tão massacrante, e a gente até acredita que as coisas possam melhorar, por força de uma intervenção divina. Pra mim, o ano de 2010 foi pesado e triste, tive muitas perdas importantes, a ponto de fazer com que os ganhos quase não fossem tão importantes assim. Foi com alívio que arrumei a casa (com a cor amarela, afinal é a cor do anjo e do signo regente), preparei meu tradicional peixe assado (que nada sempre pra frente, e atrai sucesso e dinheiro) e estourei meu champanhe vendo os fogos da praia dando adeus a esses 365 dias pra nunca mais! Minha família toda junta (ou o que ainda sobrou dela), todos saudosos, mas tranquilos, esperançosos de que essa mesma família volte a crescer e fique sempre junta, pois isso é o que realmente importa. Importa mais do que o risco de novas enchentes e tsunamis, desmoranamentos e terremotos, novas cpmfs e altas de juros, contração do mercado e descontração na política, enfim, de todo esse entorno que não passa disso mesmo, entorno, enquanto que o central é isso: amor, saúde e paz. É o que eu desejo a todos, amigos e desconhecidos, afetos e desafetos, homens, mulheres, crianças e seus bichinos, todos: AMOR, SAÚDE E PAZ! E muita luz, pra entender o que está aí! Saudações acadêmicas!