terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Demorôôôôô!!

"A polícia invade o Morro do Alemão". Tradução: finalmente, o Estado retoma seu lugar e afasta o governo paralelo! Ufa! Há tempos eu esperava essa notícia ansiosamente, já achando que o Rio era o foco inicial de uma futura Colômbia brasileira! Pra voce ver a semelhança da situação, as técnicas usadas para a retomada do poder são as mesmas utilizadas por Bogotá: polícia pacificadora, urbanização da área, criação de centros de convivência comunitária (praças, quadras). E, claro, a demonstração militar de que o Estado não está de joelhos, aguardando o tiro de misericórdia da delinquência. Achei ótimo a tv mostrar os redutos dos traficantes, cheios de luxo e ostentação internamente, disfarçados de barracos de favela por fora. E com uma paisagem de dar inveja a qualquer  "côte d'azur"! Achei ótimo a polícia permitir que a comunidade pudesse entrar e passear e usufruir destas instalações. Creio que o sentimento de cada cidadão, morador do Morro do Alemão, que viu aquele luxo, é o mesmo daquele cidadão que vê as mansões e as propriedades de alguns vereadores e deputados, algo do tipo: "caraca, eu me f........ pra pagar minhas contas e tendo que obedecer e respeitar esse cara, fechando meu comércio em dia de guerra, cumprindo toque de recolher, perdendo meu filho, que é "avião" dele, e nem podendo reclamar pra polícia, e o cara curtindo "Jacuzzi", mármore no chão e sei lá mais o quê? Que sacanagem!" É assim que se trabalha, é assim que a polícia deve fazer, é assim que deve ser. Houve um tempo em que até era romântico morar no morro, na favela, com "a lua furando nosso zinco, salpicando de estrelas o nosso chão". Mas pera lá, romântico? Que papo é esse? Teto de zinco furado também entra chuva, entra frio, entra bicho! Ter que se encarapitar num morro, em casinhas de madeirite, com ruelas estreitas e escorregadias por onde também corre a chuva e o esgoto, mas não sobe ambulância nem "radio-patrulha", empilhando os filhos pra dormir onde também se cozinha, à luz de uma vela que pode incendiar tudo, isso é romântico? Não, isso é uma vergonha, isso sim! Como dizia Joãozinho Trinta, quem gosta de miséria é intelectual, pobre também gosta de luxo. Foi com essa frase que eu mudei minha postura de intelectual idealista para intelectual realista. Tem que tirar não só o traficante da favela, mas todo mundo, especialmente se a favela for em área de preservação ambiental. E tem que levar para um lugar com infraestrutura ótima, sim, com tudo o que o cidadão tem direito, asfalto, água, luz, esgoto, residência de alvenaria com quartos e sala e cozinha e área de serviço e banheiros, transporte coletivo para todos os lugares, escolas com professores e material didático, posto de saúde com pessoal e remédios, posto policial sem corrupção, quadras, praças, centros de convivência, cursos profissionalizantes, e tudo o mais que transformam um local em uma comunidade. O Estado tem que estar presente, cumprindo sua função. Ah, mas é que o traficante não deixa assaltar, compra o gás de cozinha pra quem precisa, chama a ambulância. Pelamôrdedeus, então ele é melhor que o prefeito! Mas vê se ele faz isso na favela do lado, claro que não! E o prefeito tem que fazer pra todas. E tem que fazer mesmo, até pra evitar que o traficante faça. Eu digo que até uma invasão militar estaria justificada, no caso das favelas tomadas pelo tráfico, no Rio. Na minha concepção de jurista, a situação que se apresentava tinha ultrapassado a questão criminal, tratava-se de uma questão de soberania nacional, de guerra interna mesmo. Decretaria-se Estado de Sítio e condenaria-se os grandes traficantes e sua cúpula operacional e administrativa como traidores da pátria e corte marcial neles! Ora, o que eles fazem não é bandidagem, concorda? É mais grave, é governo paralelo, é desafio ao poder estabelecido, que é democrático, imperfeito ou não, corrupto ou não, mas é democrático. Sou contra a violência, mas em situações extremas, medidas extremas.
Entretanto, não excluo cada cidadão destas comunidades cariocas de sua responsabilidade política nestes eventos. "Ah, coitadinho do pobre, coitadinho do favelado" é coisa de quem está iniciando nos Direitos Humanos. Ninguém é coitadinho. A cidadania é uma via de mão dupla. O Estado não dá e o "coitadinho" não exige, não se organiza, se acomoda, esse é o jeito mais prático de tudo dar errado. Tem que estudar, tem que se profissionalizar, tem que procurar o que o governo oferece pra te tirar de lá, te tirar dessa vida de coitadinho. E olha que o Estado tem o que oferecer! Eu estava conversando com a minha auxiliar operacional para assuntos domésticos (vulgo empregada doméstica, mas acho esse nome horrível!) e fiquei sabendo que todos os seus quatro filhos participam de programas municipais de cultura e profissionalização, além da escola pública e do bolsa-família. Uma estuda ballet, o outro remo, o outro saxofone, a outra salva-vidas com bombeiros, um já fez jardinagem, o outro marcenaria, a outra panificação, pintura em tela, a outra... é muito novinha pra trabalhar! E as crianças são boas no que fazem, são talentos natos, e vão ser aproveitadas, inclusive no programa local de aproveitamento de atletas para as olimpíadas no Rio (se tiver...). Meu filho, por exemplo, já não pode participar destes programas, afinal, sou classe média, eu que me vire pra pagar os cursos, né, burguesinha! Mas tudo bem, pelo menos o município dá e quem não poderia nunca ter acesso, tem, o que é maravilhoso! Voce cria, com a arte e o esporte, uma consciência do belo, do bom, e a pessoa leva isso pra todas as áreas de sua vida, começa a se sofisticar, no sentido de se aprimorar e procurar sempre melhorar. Mas diz, a prefeitura foi na casa dela, bater na porta dela pra oferecer isso? Não, ela foi atrás, ela procurou. Ela não quer que seus filhos vivam do mesmo jeito que ela tem vivido, com dificuldades. Ela quer que eles saibam que podem viver melhor, fruto de seu próprio esforço. Isso é cidadania. E assim, com essa consciência, eles, a família dela, passam a "contaminar" ideologicamnete os demais, vizinhos, amigos, colegas de escola e de trabalho, e o grupo todo passa a crescer e enriquecer. Não é legal? Ninguém vai precisar de traficante dando nada, mesmo porque, "almoço que é de graça, sempre tem alguém pagando"...
Parabéns ao Rio, parabéns à polícia do Rio, parabéns ao cidadão do Rio, que apoiou sua polícia. O único senão desta história é a paisagem ma-ra-vi-lho-sa que se tem do morro, mas pode esquecer isso, porque, quando não é o traficante, quem se apossa dos melhores lugares do mundo são a igreja e as forças armadas, pra continuar protegendo almas e corpos de seus cidadãos... Saudações acadêmicas!

"Presidente" ou "Presidenta"?

Não, não, não é uma referência ao fato de que os candidatos ao segundo turno eram um homem e uma mulher. Infelizmente, parece que o assunto mais candente pós-resultado desta eleição é como se deve chamar a candidata eleita: "presidente" ou "presidenta". Não é incrível? Estou bege! Ainda que eu ache mais bonitinho falar "presidenta", até porque talvez acentue o fato de que é uma mulher, fala sério, isso não é o mais importante! As duas formas estão certas, mas é a forma que vamos ser representados o que realmente interessa. Tô tentando não esboçar minha preferência eleitoral, e se eu escorregar, por favor me perdoem. Sempre fui a favor de mulheres nos governos dos países, principalmente, além até de governos de estados e municípios. Tenho a impressão, sem ser sexista, longe de mim, de que mulheres negociam mais, guerream menos, pensam mais na questões sociais e humanitárias, são mais práticas em questões administrativas, preocupam-se mais com o meio-ambiente. Por favor, não sou feminista, não acredito em determinação genética ou do meio, mas me parece que algumas tendências se destacam nos gêneros e até nas culturas, e essas diferenças devem ser usadas a favor, e não negadas ou desvalorizadas. Eu penso assim. Mas também penso na necessidade de flexibilidade e respeito, quando se trata de representar e administrar pessoas. Não parece, mas advogados fazem isso o tempo todo, afinal, temos clientes com interesses diversos e, representando-os, temos que lidar com todo tipo de gente: promotores arrogantes, juízes mal-educados, delegados psicóticos, funcionários públicos frustrados, colegas desleais e uma população inteira achando que somos todos desonestos. Não é fácil! Mas enfim... ninguém melhor que nós para palpitar sobre políticos. E assim, creio que qualquer um com um discurso um pouco mais radical pode significar um risco real na administração do governo federal. Somos um país imenso, e é difícil cuidar de tudo isso. Quando vemos um país europeu, onde tudo parece muito limpo, organizado e funcionando direitinho, esquecemos que, às vezes, esses países podem ser do tamanho de um bairro de nossa cidade. Já pensaram que Portugal tem apenas 250 km de largura de leste a oeste? Pra onde vamos em apenas 250 km? Nem saímos do nosso próprio estado, quanto mais atravessar o país de ponta a ponta! E por isso, o controle social da administração pública fica muito mais fácil lá. É fácil perceber para onde foi o dinheiro, se construíram hospitais, se a polícia está aparelhada, se tem mais escola e se em cada escola tem mais professores, se as ruas estão asfaltadas e se a cidade do lado tem coisas melhores. É fácil perceber se cada funcionário público, inclusive federal, está cumprindo seu trabalho, e se cada eleito está cumprindo direitinho seu mandato. Tudo é mais fácil, porque como tudo é muito perto e como todas as pessoas estão muito próximas, são conhecidas, fica fácil de cobrar. Como voce faria, morando em Natal/RN, se quisesse falar com seu eleito deputado federal? Ou senador? Iria a Brasília, a horas de distãncia? Mandaria um e-mail, que jamais seria respondido? Tentaria telefonar? Num país pequeno, ele pode estar alí, do seu lado. Ou a família dele pode morar alí, do seu lado. O que facilita bastante. Já imaginou o mico, voce procurando a mãe do seu deputado federal, e dizendo pra ela que ele não tá fazendo nada que prometeu? Ou que tá roubando o dinheirinho suado do povo, inclusive o seu? E ela dando a maior bronca no cara, no almoço de domingo, na frente da família toda, falando que ele a está envergonhando no bairro todo, depois de séculos da família com o nome ilibado? É isso aí, é assim que funciona nos países europeus, no Japão, onde tudo é muito perto e visível. Mas aqui, com essa dimensão continental, tudo é mais complicado. E é por isso que devemos fazer uma vigilância mais cerrada, exigir, cobrar, interagir. Os sites que informo aí ao lado são para isso, pra gente saber das coisas e pra interferir, como por exemplo o site da transparência e o do gabinete do presidente da república. Além da "lonjura", tem a diversidade: lá neva, alí o inverno é quando chove, acolá faz 42 graus o ano todo, tem praia, tem montanha, tem deserto, tem onde se joga comida fora, e tem onde se come areia por não ter o que se comer, tem língua diferente, tem necessidades e entendimentos diferentes. E é aqui que mora o problema da inflexibilidade, nas necessidades e entendimentos diferentes. Com essa nossa diversidade, eu espero da nossa presidente/presidenta o respeito ao país que merecemos, incluindo aí preservação das culturas formadoras da nação, do meio-ambiente (acima até mesmo do pac), economia segura, crescimento sustentável, austeridade nas contas públicas, idoneidade e seriedade na administração pública e consciência de que é o povo, que trabalha muito, quem sustenta tudo isso, especialmente a Granja do Torto, o Aero-Dilma etc, etc... Espero também que a única inflexibilidade seja na postura de preservar, proteger e cuidar deste mesmo povo, ouvindo e percebendo suas necessidades, como uma mãe faria, já que ela mesma se posicionou assim, e não como um ditador poderia querer fazer. Em todo o caso, estarei vigilante, e voces também. Saudações acadêmicas!