sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

e-mails malditos!

Recebí um e-mail, copiado abaixo, e respondí, também com cópia abaixo, porque não consigo engolir essas campanhas mascaradas. Saudações acadêmicas!

Não acredito, em absoluto, que um texto altamente discriminatório e parcial como esse tenha emanado de um jurista como o Ives, que eu conheço pessoalmente, e sei que jamais cometeria essa leviandade. Realmente, embora o Brasil seja um país pródigo na produção de leis, o que acaba resultando em leis às vezes absurdas, a proteção de minorias se faz necessária, especialmente num lugar em que tudo é carnaval e o comportamento padrão é a piada sobre a condição do outro. Podemos até estar vivendo um período de adaptação a essas novas normas, e nos sentirmos prejudicados enquanto "cidadãos comuns brancos", que eu também sou, mas temos que lembrar que essas minorias viveram várias vidas sob preconceito, maus tratos, indiferença dos poderes públicos, discriminação, sendo mesmo obrigados a viver escondidos e sob a égide da mentira para se protegerem, como os homossexuais, ou sendo agredidos no corpo pelo fato de serem "diferentes", como os negros e os loucos. O pêndulo da balança, num país novo como o nosso em termos de identificação nacional, vai brandir para o outro lado por um tempo, o que dá essa sensação de os "brancos comuns" estarem sendo discriminados, mas chegará ao meio, ao justo, ao equilibrado. Aquele meio justamente onde o normal é não achar ninguém anormal, e anormal passa a ser aquele que vê as violências, sejam elas físicas, morais, sociais, verbais, sexuais, psicológicas ou de que ordem forem, como o meio de "isolar" os "anormais", e garantir os benefícios de uma vida sob a luz do sol e do amor de deus apenas para sí e seus "iguais".
Tenho certeza que Gandra Martins pensa como eu, e não como esse texto, que não se preocupa sequer com o teor equivocado das informações legais que está passando.
Isso me parece mais algo de algum skinhead neonazi recalcado, com um pouquinho só de informação bem superficial, que se julga culto a ponto de querer se fazer passar pelo Ives, mas que não consegue sequer lembrar, ou não sabe mesmo, que "brancos comuns" são, na verdade, a minoria nesse mundo. Fiquemos quietos, então, antes que pecebam que nós, "brancos comuns", é que não somos os normais, e nos desejem fora desse planeta, pelo mau que já causamos à humanidade!
um beijo
U.



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Subject: Você é branco? Cuide-se!!!
 
Ives Gandra da Silva Martins*

Hoje, tenho eu a impressão de que o "cidadão comum e branco" é agressivamente discriminado pelas autoridades e pela legislação infraconstitucional, a favor de outros cidadãos, desde que sejam índios, afrodescendentes, homossexuais ou se autodeclarem pertencentes a minorias submetidas a possíveis preconceitos.

Assim é que, se um branco, um índio e um afrodescendente tiverem a mesma nota em um vestibular, pouco acima da linha de corte para ingresso nas Universidades e as vagas forem limitadas, o branco será excluído, de imediato, a favor de um deles! Em igualdade de condições, o branco é um cidadão inferior e deve ser discriminado, apesar da Lei Maior.

Os índios, que, pela Constituição (art. 231), só deveriam ter direito às terras que ocupassem em 5 de outubro de 1988, por lei infraconstitucional passaram a ter direito a terras que ocuparam no passado. Menos de meio milhão de índios brasileiros - não contando os argentinos, bolivianos, paraguaios, uruguaios que pretendem ser beneficiados também - passaram a ser donos de 15% do território nacional, enquanto os outros 185 milhões de habitantes dispõem apenas de 85% dele.. Nessa exegese equivocada da Lei Suprema, todos os brasileiros não-índios foram discriminados.

Aos 'quilombolas', que deveriam ser apenas os descendentes dos participantes de quilombos, e não os afrodescendentes, em geral, que vivem em torno daquelas antigas comunidades, tem sido destinada, também, parcela de território consideravelmente maior do que a Constituição permite (art. 68 ADCT), em clara discriminação ao cidadão que não se enquadra nesse conceito.

Os homossexuais obtiveram do
Presidente Lula e da Ministra Dilma Roussefo direito de ter um congresso financiado por dinheiro público, para realçar as suas tendências - algo que um cidadão comum jamais conseguiria!

Os
invasores de terras, que violentam, diariamente, a Constituição, vão passar a ter aposentadoria, num reconhecimento explícito de que o governo considera, mais que legítima, meritória a conduta consistente em agredir o direito. Trata-se de clara discriminação em relação ao cidadão comum, desempregado, que não tem esse 'privilégio', porque cumpre a lei.

Desertores, assaltantes de bancos e assassinos, que, no passado, participaram da guerrilha, garantem a seus descendentes polpudas indenizações, pagas pelos contribuintes brasileiros. Está, hoje, em torno de 4 bilhões de reais o que é retirado dos pagadores de tributos para 'ressarcir' aqueles que resolveram pegar em armas contra o governo militar ou se disseram perseguidos.

E são tantas as discriminações, que é de perguntar: de que vale o inciso IV do art. 3º da Lei Suprema?

Como modesto advogado, cidadão comum e branco, sinto-me discriminado e cada vez com menos espaço, nesta terra de castas e privilégios.



(
*Ives Gandra da Silva Martins é renomado professor emérito das universidades Mackenzie e UNIFMU e da Escola de Comando e Estado do Exército e presidente do Conselho de Estudos Jurídicos da Federação do Comércio do Estado de São Paulo ).